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Taninos do vinho não combatem a Covid

Recente experimento feito em laboratório reforça que será preciso aprofundar mais estudos para demonstrar o efeito real em seres humanos






Por Caroline Dani


Talvez você já tenha recebido ao longo desta pandemia inúmeras imagens de reportagens, posts e outras formas de comunicação trazendo a ideia de que o vinho poderia combater o coronavírus responsável pela doença denominada COVID-19, o SARS-CoV-2. Esses boatos circulam desde o ano passado, conforme a própria ABS-RS já alertou neste mesmo espaço. Mais uma vez circulou uma notícia, dando conta que um experimento teria evidenciados que os taninos do vinho combateriam o coronavírus. Ledo engano.


O artigo foi um dos destaques da revista American Journal of Cancer Research, fruto de trabalho de um grupo da China Medical University, de Tawian. O título do estudo é Tannic acid suppresses SARS-CoV-2 as a dual inhibitor of the viral main protease and the cellular TMPRSS2 protease (ou “O ácido tânico suprime o SARS-CoV-2 como um inibidor duplo da protease principal viral e da protease TMPRSS2 celular”, em tradução livre).


O estudo foi justamente publicado em uma revista cientifica especializada em câncer pelo fato da proteína de superfície celular TMPRSS2 (transmembrana protease serina 2) ser um elemento importante para a progressão do câncer de próstata e, portanto, um alvo terapêutico atraente. Além de seu papel na biologia tumoral, o TMPRSS2 também é um ator-chave na entrada celular pelos vírus SARS-CoV-2.


Seis compostos naturais bioativos previamente identificados que eram eficazes contra o CoV, ou seja, catequina, kaempferol, quercetina, proanthocyanidins, resveratrol e ácido tânico foram avaliados por sua capacidade de inibir a atividade enzimática de SARS-CoV-2Mpro. Entre os seis compostos testados, apenas o ácido tânico apresentou-se com atividade significativa de inibição de até 90% da atividade enzimática do SARS-CoV-2 Mpro. Desta forma, os autores apresentam que o ácido tânico, um dos compostos que pertence ao grupo dos taninos, é capaz de diminuir a replicação e a capacidade de penetrar as células do Coronavírus (SARS-CoV-2) em estudo laboratorial.




Os taninos são os principais componentes que afetam a riqueza da textura do vinho tinto. Estima-se que as concentrações enológicas de taninos em vinhos tintos variam de 5 mm a 100 mm dependendo da variedade. O ácido tânico é um polifenol solúvel em água frequentemente presente em plantas herbáceas e amadeiradas, leguminosas, sorgo, bem como as frutas comumente consumidas, como framboesas, bananas e caquis. A uva é uma das frutas mais ricas em taninos. Em estudo publicado em 2020, mostrou-se que o a uva Vitis vinifera pode chegar a ter 5.190 miligramas por litro, muito superior a banana por exemplo, que pode ter no máximo 979 miligramas por litro.


Várias pesquisas recentes demonstraram a atividade do ácido tânico na supressão de múltiplas funções biológicas em células cancerosas desde o metabolismo energético, a proliferação celular, a invasão, a metástase, até no combate à inflamação. O experimento noticiado pela revista cientifica foi realizado in vitro, ou seja, em células em laboratório. Por essa razão, os autores reforçam que mais estudos são necessários para demonstrar o efeito real em seres humanos.


Existem inúmeros estudos que já demostram que os polifenóis, grande classe onde os taninos são encontrados, agem inibindo ou reduzindo a replicação viral por diferentes mecanismos .O estudo publicado pela American Journal of Cancer Research apenas nos mostra que precisamos ainda investir muito na ciência e, assim, muitos benefícios dos derivados da uva serão encontrados.


Consuma vinho com moderação de forma contínua, evitando ingestões abusivas e esporádicas, que estão diretamente relacionadas ao aparecimento de vários tipos de cânceres.




Veja aula do Dra. Carolina Dani sobre mitos e verdades sobre coronavírus, vinho e saúde




Sobre a autora: Caroline Dani é Sommelier profissional, possui graduação em Biomedicina pela Feevale (2004), mestrado (2006) e doutorado (2008) em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (UCS). Pós-doutorado na Georgetown Lombardi Comprehensive Cancer Center na Georgetown University, em Washington DC (EUA).

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