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Vales da Uva Goethe passa a ser Denominação de Origem

  • Foto do escritor: ABS-RS
    ABS-RS
  • 16 de jun.
  • 4 min de leitura

Região de Santa Catarina foi reconhecida como Indicação de Procedência (IP) em 2012. Com essa alteração, as atuais 135 IGs brasileiras reconhecidas pelo INPI são 105 IPs e 30 DOs


Publicado pelo INPI

 

Foto Mafalda Press, prefeitura de Urussanga

Colheita simbólica realizada em Urussanga, uma das oito cidades inseridas na Indicação Geográfica catarinense, marcou a abertura da vindima 2025
Colheita simbólica realizada em Urussanga, uma das oito cidades inseridas na Indicação Geográfica catarinense, marcou a abertura da vindima 2025

O INPI publicou na Revista da Propriedade Industrial (RPI) 2840, de 10 de junho de 2025, o deferimento da alteração da Indicação Geográfica Vales da Uva Goethe para vinho, da espécie Indicação de Procedência (IP) para Denominação de Origem (DO), conforme solicitação da Associação dos Produtores da Uva Goethe (Progoethe), que detinha a IP desde 14 de fevereiro de 2012.


A DO se aplica aos seguintes produtos: vinho branco seco, vinho branco suave ou demi séc, vinho leve branco seco, vinho leve branco suave ou demi séc, vinho espumante brut, ou demi séc obtidos pelo método “Champenoise”, vinho espumante brut, ou demi séc obtidos pelo método “Charmat”, vinho licoroso.


A área geográfica da DO delimitada para a produção de Vinhos Goethe, com qualidade D.O.V.U.G., localiza-se nos municípios Urussanga, Pedras Grandes, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Treze de Maio, Orleans, Nova Veneza e Içara, no estado de Santa Catarina.


A combinação entre a adaptação genética da uva, as condições edafoclimáticas específicas e o legado histórico-cultural sustenta a tipicidade dos vinhos Goethe. Essa sinergia não apenas define a autenticidade do produto, mas também fundamenta o reconhecimento da região como DO, reafirmando o vínculo entre o meio geográfico, a tradição humana e a excelência vitivinícola.


Com essa alteração, as atuais 135 IGs reconhecidas no Brasil pelo INPI são 105 IPs e 30 DOs. Há ainda DOs 10 estrangeiras registradas no país.


Conhecendo a DO 

A documentação presente no processo demonstrou que a uva Goethe desenvolveu uma tipicidade única no território dos Vales da Uva Goethe dada à interação singular com os fatores edafoclimáticos, genéticos e humanos presentes na região. Como mostram estudos técnico-científicos realizados desde o reconhecimento da respectiva IG como IP, há um vínculo claro e inequívoco entre o meio geográfico e a qualidade das uvas, que influencia diretamente na composição química e sensorial dos produtos vitivinícolas.


Uma dissertação apresentada como fonte de comprovação aborda a relação entre o meio geográfico e a produção de vinhos elaborados com a uva Goethe na região sul do estado de Santa Catarina. O terroir local é definido pela combinação de fatores naturais e humanos que conferem singularidade ao produto. Os solos, compostos por cambissolos, gleissolos, argissolos e nitossolos, apresentam textura franca e capacidade de retenção de umidade, favorecendo o desenvolvimento radicular das videiras e a disponibilidade de nutrientes. Essas características, associadas ao clima subtropical úmido, com verões quentes, invernos frios e amplitude térmica diária acentuada, propiciam um ciclo vegetativo equilibrado, influenciando a maturação gradual das uvas e a síntese de compostos fenólicos e aromáticos. 


A topografia da região, com altitudes entre 105 m e 289 m, e a proximidade das bacias hidrográficas dos rios Urussanga e Tubarão geram microclimas distintos. A influência oceânica e os ventos do Planalto Catarinense contribuem para noites frescas e dias ensolarados, fatores que intensificam a acumulação de açúcares e preservam a acidez natural das bagas. O sistema tradicional de condução em latada, herdado de imigrantes italianos, cria um microambiente no dossel vegetativo, otimizando a exposição solar e a ventilação, aspectos críticos para a qualidade e sanidade das uvas. 


Estudos químicos destacam marcadores geográficos, como a composição elementar (potássio, magnésio, alumínio) e a presença de elementos terras raras (lantânio, cério, neodímio), que refletem a geoquímica do solo e permitem a rastreabilidade do produto. A análise sensorial dos vinhos revela atributos como aromas de maçã verde, notas florais e acidez equilibrada, diretamente associados às condições ambientais e às técnicas de vinificação tradicionais, incluindo fermentação em tanques de tijolos e maceração controlada. A delimitação de áreas de cultivo e o estabelecimento de padrões de qualidade não apenas protege a origem e a tipicidade do vinho, como também resgata a identidade cultural e impulsiona a economia local, consolidando-se como elemento humano integrado ao produto.


Por outro lado, conforme explicado em capítulo de livro apresentado na documentação, a variação altimétrica entre Urussanga e Pedras Grandes promove diferenças no ciclo fenológico da videira, impactando o amadurecimento das uvas e as características químicas dos vinhos. O clima subtropical úmido, com chuvas distribuídas e amplitude térmica acentuada, aliado à topografia de colinas suaves, cria um microclima propício ao desenvolvimento equilibrado das videiras, favorecendo a expressão de atributos sensoriais típicos. 


A uva Goethe atual resulta de mutações espontâneas no território, originando clones como a Goethe Clássica e a Goethe Primo, cujas composições físico-químicas variam mesmo sob condições ambientais semelhantes. Estudos científicos demonstram perfis sensoriais distintos: a Clássica produz vinhos com notas tropicais, acidez pronunciada e persistência em boca, enquanto a Primo destaca-se por aromas herbáceos e nuances delicadas. Análises químicas reforçam essas diferenças, evidenciando maior atividade antioxidante e teor de polifenóis nos vinhos Clássica, atributos ligados à complexidade sensorial. 


No âmbito humano, as práticas tradicionais, como o cultivo em latada e o uso de tanques de fermentação em alvenaria revestida com tinta alimentar, preservam a identidade do produto. Essas técnicas, transmitidas por gerações, harmonizam fatores ambientais e culturais, integrando-se ao conceito de terroir


terroir da região, definido por solos argilosos, clima subtropical úmido e topografia variada, aliado à adaptação genética da uva Goethe e suas mutações espontâneas (Clássica e Primo), estabelece bases químicas e sensoriais distintas. A tradição vitivinícola, enraizada em práticas seculares como o cultivo em latada e métodos de fermentação artesanais, reforça a identidade do produto, vinculando-o ao legado histórico dos imigrantes italianos.


Os vinhos produzidos com a Goethe Clássica têm “coloração amarelo-dourado, com destaques para os descritores olfativos de maracujá e frutas tropicais, além de atributos gustativos marcantes de acidez, amargor, salinidade e persistência na boca”. Já os de Goethe Primo, tem “coloração amarelo-esverdeada, aroma herbáceo e notas mais delicadas em boca”.

Tais elementos, que são fruto da a sinergia entre relevo, clima, genética (elementos naturais) e saber-fazer local (elemento humano) consolidam a tipicidade desses vinhos, como decorrente do meio geográfico com características típicas, e autorizam o reconhecimento da região como DO. 


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