Projeto liderado por Santa Catarina pavimenta o caminho para uvas Piwi
- Marcos Graciani

- 10 de jun.
- 3 min de leitura
Variedades resistentes a fungos representam uma inovação importante para a cadeia do vinho e o futuro da viticultura
Por Marcos Graciani, para Amanhã

Embora a temática da vitivinicultura e do melhoramento genético seja recorrente em diversos trabalhos produzidos por enólogos e agrônomos, no âmbito da história ainda não existe nenhum trabalho de pesquisa robusto sobre o tema. Ou melhor, não existia. Recentemente o historiador ambiental Gil Karlos Ferri defendeu sua tese de doutorado intitulada "Variedades Piwi: a vitivinicultura no Planalto de Santa Catarina e as pesquisas de melhoramento genético de videiras sob a perspectiva da história ambiental global", uma pesquisa que articula de forma pioneira as ciências humanas e as ciências naturais no campo da vitivinicultura.
O objetivo geral da tese foi investigar o processo histórico e socioambiental da vitivinicultura no Planalto de Santa Catarina e as pesquisas de melhoramento genético de videiras desenvolvidas por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com a cooperação do Instituto Agrario di San Michele all'Adige (Fondazione Edmund Mach, na Itália) e do Institute for Grapevine Breeding Geilweilerhof (Julius Kühn-Institute, da Alemanha).
O trabalho acadêmico apresenta o fato que o cultivo de Vitis vinifera nas condições de solo e clima de Santa Catarina tem sido um desafio economicamente oneroso e ambientalmente prejudicial devido a necessidade de tratamentos fitossanitários para combater doenças fúngicas. Na busca por soluções a este problema, pesquisadores brasileiros e estrangeiros estão cooperando em um projeto internacional para o melhoramento genético de videiras e o desenvolvimento de variedades resistentes Piwi (sigla para a palavra alemã pilzwiderstandsfähig que significa "resistente a fungos"). Neste sentido, a tese defendida por Ferri apresentou uma narrativa histórica com dados e argumentos que possam tornar compreensível a trajetória da vitivinicultura e seus desdobramentos. Apresentou pesquisas de melhoramento genético, apoiando-se nas atuais discussões sobre sustentabilidade, redução do uso de agrotóxicos e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. E utilizou-se da potencialidade que as variedades resistentes Piwi representam para uma vitivinicultura mais responsável com a sociedade e o meio ambiente catarinense e global.
"O argumento que perpassa toda a tese demonstra que a trajetória da vitivinicultura é o resultado das relações socioambientais que o ser humano desenvolve continuamente com plantas do gênero Vitis – e seus inseparáveis patógenos – ao longo de milênios", resume Ferri em entrevista ao Blog Cepas & Cifras (publicado aqui pela Amanhã). "Sendo assim, sua história revela um relevante dinamismo na busca de soluções para os desafios produtivos. Neste sentido, as atuais variedades resistentes Piwi representam uma inovação importante para a cadeia do vinho e o futuro da viticultura, especialmente num contexto de mudanças climáticas, crescente demanda por sustentabilidade e redução do uso de insumos químicos, especialmente para o Brasil, um país que ainda está em processo de experimentação e afirmação no cenário vitivinícola global", argumenta.
Ferri também explicou ao Cepas & Cifras que alguns países estão na vanguarda do desenvolvimento, cultivo e vinificação com uvas Piwi, com destaque para a região central da Europa. Nesse cenário, a Alemanha tem pioneirismo, seguida da Áustria, Suíça e Itália, nações que estão investindo na pesquisa e produção comercial dessas castas. França, República Tcheca e Eslováquia também estão seguindo com pesquisas e implementação de vinhedos resistentes. "Nas Américas, o destaque fica por conta do interesse crescente dos Estados Unidos e do potencial das pesquisas brasileiras – como o projeto liderado por Santa Catarina – ganharem força entre os produtores, pavimentando o caminho para a produção de vinhos Piwi e a aceitação desses produtos no mercado nacional", sublinha o pesquisador. Atualmente, Ferri atua na docência de história na rede Sesi/Senai de Santa Catarina e continua a executar pesquisas em estudos ítalo-brasileiros, vitivinicultura e história ambiental global. A tese na íntegra, com 400 páginas, pode ser acessada aqui.








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