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As duas escolas dos Vinhos Verdes

Região que é fenômeno de popularidade internacional no cenário português busca renovação e diversidade


Por Maurício Roloff

Vice-presidente e diretor de ensino da ABS-RS


Olga Shenderova/Pexels

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Em diferentes partes do mundo, a produção vitivinícola vive um embate entre a vinificação tradicional e uma mais moderna. São movimentos frequentemente chamados de “escolas” contrastantes, e podem ser observados em regiões renomadas como o Piemonte, na Itália, a Rioja, na Espanha, e até mesmo na elaboração de Tannats no nosso vizinho Uruguai. Geralmente, a interpretação conservadora desses estilos clássicos é ancorada em métodos mais antigos e visando a longevidade dos vinhos, enquanto a versão atualizada é alinhada com características atreladas ao Novo Mundo – varietais, com aromas mais explícitos e prontos para beber.


A zona dos Vinhos Verdes, uma das mais emblemáticas Denominações de Origem de Portugal, também apresenta essa dualidade. No entanto, o fenômeno vai no sentido contrário do descrito acima. Enquanto o estilo clássico é leve e direto, o mais moderno foca em complexidade e corpo. Cada um com seu charme particular, eles contribuem para consolidar a região entre as mais competitivas do país.


Estilo Tradicional

O estilo clássico dos Vinhos Verdes é aquele que foi tradicionalmente associado à região, responsável por apresentar a categoria a muitas pessoas ao redor do mundo. É o que a transformou em um prodígio de exportações, com um salto de aproximadamente €$ 15 milhões no início da década de 2000 para mais de €$ 80 milhões nos últimos anos. Esses vinhos – leves, frescos, simples e de curta persistência em boca – representam a identidade visual e sensorial típica da região. São feitos para consumo imediato, com foco na vivacidade, acidez e uma leve sensação de doçura, frequentemente acompanhada de ligeira carbonatação (a famosa sensação de “agulhas” na boca), reforçando o apelo ao paladar, principalmente de públicos iniciantes na apreciação da bebida.


São vinhos baratos, bastante tecnológicos, com processamento somente em inox e com a carga de gás carbônico por injeção. Além disso, são tradicionalmente cortes de uvas simbólicas da localidade. O blend clássico é uma combinação de Loureiro (cerca de 60%), Arinto (mais ou menos 20%) e Trajadura. As percepções visuais também são características: uma tonalidade levemente esverdeada na taça, reforçando o nome do estilo – que foi batizado não pela cor dos brancos, mas pelo fato de a região ser de vegetação muito exuberante, além de serem vinhos feitos para um consumo enquanto jovens (e aqui o “verde” se contrapõe a “maduro”).


Vale lembrar que há também Vinhos Verdes rosés e tintos, mas que foram os brancos que popularizaram a produção regional mais recentemente e hoje levam adiante a imagem da categoria.


Foto galeria fotográfica da Região Vitivinícola do Vinho Verde

Solar de Serrade, localizado na renomada região de Monção e Melgaço, reduto do novo estilo de Vinho verde com destaque para usa da casta Alvarinho
Solar de Serrade, localizado na renomada região de Monção e Melgaço, reduto do novo estilo de Vinho verde com destaque para usa da casta Alvarinho

 

Novas leituras

O outro estilo de Vinhos Verdes, que vem crescendo em destaque em anos mais recentes, corresponde a rótulos com maior potencial de envelhecimento, complexidade aromática e intensidade gustativa. Esses vinhos diferenciam-se claramente do padrão clássico por apresentarem mais corpo, profundidade, estrutura e persistência.


Ainda que possam combinar diferentes uvas na garrafa, são fortemente baseadas na casta Alvarinho, atual estrela entre as uvas brancas da Península Ibérica. Logo, trazem notas florais, frutadas e minerais, mas sem a doçura e a carbonatação. Em vez de buscarem uma uniformidade por meio da vinificação tecnológica, exploram a afinidade da vinha com os microclimas e solos diversos do Minho. Sobretudo na zona de Monção e Melgaço, fronteira norte com a Espanha, principal reduto desse Alvarinho renomado.


Aliás, a elaboração é marcada por grande criatividade. Técnicas como fermentação e estágio em madeira (de diferentes volumes), uso de ânforas ou ovos de concreto e inox, contato com borras finas, maceração pelicular, cortes fora do encaixe clássico e até espumatização vêm se tornando comuns. O uso de métodos que conferem maior extração também leva à longevidade, permitida pela alta acidez da variedade base e o amplo volume de boca. Alguns exemplares mostram grande aptidão para o amadurecimento em garrafa, podendo durar 10 anos ou até mais.

 

Percepção de Mercado e Tendências

Nos últimos anos, há uma crescente divulgação dos vinhos mais complexos e com potencial de envelhecimento, que destoam do estilo clássico, associado a custo baixo e consumo imediato. A nova escola dos Vinhos Verdes é vista como o caminho para a valorização regional, não só em termos de imagem como em preço final, puxando para cima toda a categoria.


Essa tendência é acompanhada por enólogos e produtores que buscam ampliar o reconhecimento internacional do terroir do Minho, oferecendo vinhos com maior profundidade e caráter de expressão do terroir. Nomes como Anselmo Mendes e Luís Cerdeira (enólogo-chefe da Soalheiro) personificam esse movimento.


Por outro lado, o estilo tradicional continua sendo bastante popular, especialmente entre consumidores que buscam uma experiência refrescante e despretensiosa. Ainda assim, a combinação de ambos os estilos enriquece a diversidade oferecida pela região e amplia o alcance do mercado de Vinhos Verdes.


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