Agricultura regenerativa busca a revitalização de recursos naturais
- ABS-RS

- há 2 dias
- 3 min de leitura
Dentre as práticas, estão o uso de adubos verdes, a cobertura permanente da terra, além da redução de químicos e adoção de animais para controle da vegetação
Por Alana Fernandes, para Jornal Pioneiro
Neimar De Cesero / Agencia RBS

Eventos climáticos devastadores como a enchente de maio de 2024 mostram que é preciso repensar as relações com o meio ambiente e, consequentemente, com a produção de alimentos. Um caminho pode estar na chamada agricultura regenerativa. Trata-se de um conjunto de técnicas que preveem a revitalização dos recursos naturais, com foco, especialmente, na recomposição da saúde do solo. No setor vitivinícola da Serra, o método ainda é pouco explorado.
Diretora de marketing e professora da Associação Brasileira de Sommeliers do Rio Grande do Sul (ABS-RS), Patrícia Binz entende que a agricultura regenerativa vai além das práticas sustentáveis, cujo objetivo é reduzir danos:
— Porque ela pensa em futuro também. A intenção não é só em impactar menos, mas deixar um ambiente mais propício para seguirmos com as culturas no futuro. Ou seja, pensar em formas de regenerar o solo, a biodiversidade e o ciclo da água — sintetiza.
Dentre as práticas, de acordo com a ABS-RS, estão, por exemplo, o uso de técnicas de plantio direto, rotação diversificada de culturas, uso de adubos verdes e a cobertura permanente da terra — esse último com o objetivo de conservar os nutrientes e diminuir a dependência de insumos químicos no solo. Outros métodos estão associados à diversificação de plantas, árvores e animais, além da redução de químicos, como pesticidas e fertilizantes sintéticos.
Especificamente ao setor vitivinícola, a agricultura regenerativa pode ser traduzida, conforme a associação, no uso de cobertura vegetal entre as fileiras das videiras e na adoção de animais para controle da vegetação, no lugar de herbicidas.
— Sempre que falamos em não utilizar insumos químicos e fertilizantes, há uma economia financeira. Mas, ao mesmo tempo, exige resiliência, exige lidar com crises. O risco, assim como o trabalho manual e o cuidado, são mais altos. Mas o agricultor acaba, nesse processo, conhecendo muito mais da sua terra e do seu terroir — pondera Patrícia, que é formada em nutrição e tem mestrado em turismo e hospitalidade.
O exemplo de quem faz
Porthus Junior / Agencia RBS

Criada no interior de Flores da Cunha há dois anos, a Vinícola Madre Terra é adepta dos conceitos de agricultura regenerativa. A crença de respeito à natureza é tratada como um compromisso diário e não só como um apanhado de técnicas, segundo a enóloga e diretora criativa do empreendimento, Tainá Zaneti.
— A agricultura regenerativa é como o budismo, ela é o caminho do meio: não é 100% orgânica, mas também não é convencional — compara Tainá.
Os tratamentos nos vinhedos são majoritariamente biológicos, contudo, substâncias químicas não são excluídas, caso sejam necessárias durante as etapas da produção. As roçadas são manuais e o solo é nutrido a partir do plantio de espécies como o nabo forrageiro, o centeio e aveia negra.
— Um outro ponto é ver o vinhedo como ecossistema e não como monocultura, o que é muito importante. Na Madre Terra, a gente tem 25 hectares de reserva natural de Mata Atlântica. Isso faz com que a gente tenha uma fauna e uma flora únicos — enfatiza a enóloga, acrescentando:
— Também devolvemos matéria orgânica com compostagem e reduzimos ao máximo qualquer intervenção química. Somos um parque fotovoltaico e nossa energia é limpa. Nossos papéis são reciclados e temos uma política de redução de plásticos. No fim, regenerar é isso: permitir que o solo respire para que o vinho também respire. É uma escolha ética, sensorial e profundamente humana — finaliza.
Operação Terra Forte vai recuperar o solo de propriedades
Embora o conceito de agricultura regenerativa ainda atue de forma tímida na Serra, especialistas e entidades trabalham em práticas voltadas ao fortalecimento do solo. Uma delas é o programa Operação Terra Forte, que iniciará no próximo mês, em Caxias do Sul.
A iniciativa é da Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural com execução da Emater. Ao longo de 24 meses, os extensionistas realizarão visitas às propriedades para acompanhamento e orientação técnica.
— Vamos iniciar com cem famílias, voltadas à olericultura (hortaliças), fruticultura, grãos e pecuária de leite e corte. A recuperação envolve a aquisição de insumos, sementes para o produtor, não cobrindo os custos com máquinas. Nesse sentido, contamos com o apoio da Secretaria Municipal da Agricultura — explica o engenheiro agrônomo e extensionista rural da Emater de Caxias do Sul, Mauro Tessari.
De acordo com o governo estadual, os produtores já selecionados receberão auxílio financeiro de até R$ 30 mil, em parcela única depositada no Cartão Cidadão, para execução de medidas de recuperação e resiliência nas propriedades. Ao todo, a iniciativa vai beneficiar 15 mil agricultores familiares.








.png)
Comentários