Conhecidos pela complexidade, longevidade e riqueza de aromas, um bom vinho da Madeira é uma experiência sensorial inigualável
Por Vinícius Santiago*
Professor da ABS-RS
Divulgação DOP Madeira
Os vinhos da Madeira são verdadeiras joias enológicas, conhecidos por sua complexidade, longevidade e uma riqueza de aromas e sabores únicos graças, também, aos métodos tradicionais de envelhecimento utilizados: estufagem e canteiro.
Estufagem
Este método de envelhecimento envolve o aquecimento controlado dos vinhos em tanques de inox, chamados estufas. Durante um período mínimo de três meses a bebida é submetida a temperaturas entre 45°C e 50°C, na presença de oxigênio. O calor acentuado simula as condições encontradas historicamente a bordo dos navios que transportavam o vinho da Madeira para mercados distantes, sujeitando-o a condições de temperatura elevada durante a viagem.
O calor e a presença do oxigênio promovem a oxidação gradual, fazendo com que sua cor escureça e desenvolvendo seus aromas e sabores característicos, que muitas vezes incluem notas de frutas secas, caramelo, nozes e especiarias.
Os produtos envelhecidos por este método são destinados para consumo mais jovem, com aromas pronunciados e sabores intensos, mas sem ter uma complexidade especial.
Canteiro
O método de canteiro é mais tradicional e lento. Neste processo, os vinhos são acondicionados em barricas velhas de carvalho, armazenados geralmente nas áreas superiores das adegas sobre trilhos de madeira (os canteiros), onde são expostos ao calor e ao oxigênio ao longo de, no mínimo, dois anos, mas frequentemente por décadas. Durante este período, a água evapora lentamente, concentrando seus aromas e sabores e desenvolvendo uma complexidade única.
Os cascos e madeira são periodicamente movidos entre diferentes níveis das adegas para garantir um envelhecimento uniforme e originar bases para futuros blends.
Os vinhos envelhecidos por canteiro tendem a exibir uma maior finesse e elegância do que os que passam pelo processo em estufas, com uma gama mais ampla de aromas e sabores, complexidade e profundidade.
Aromas e sabores
O amadurecimento oxidativo e com presença de calor é algo raro no mundo dos vinhos, trazendo um caráter particular aos exemplares da Madeira, chamado ‘madeirização’. Eles podem apresentar uma grande diversidade de aromas e sabores, dependendo do método de envelhecimento, do estilo e idade do vinho, bem como da casta utilizada. No entanto, é comum encontrar notas de frutas secas como figos, passas, ameixas e tâmaras. Também aromas e sabores de caramelo, mel, melaço de cana, rapadura, nozes, castanhas, praliné, café, cacau, e especiarias como canela, alcaçuz, anis estrelado e cravo, além de madeira, fumaça e tabaco.
Potencial de evolução
A maturação oxidativa e a acidez elevada dos vinhos Madeira permitem uma incrível capacidade de evolução ao longo do tempo. Podem ser apreciados jovens, com sua vivacidade e frescor. Já os de safras muito antigas apresentam uma complexidade enorme e uma elegância excepcional. Alguns rótulos da Madeira podem até mesmo sobreviver por décadas ou séculos na vinícola, revelando camadas adicionais de aromas e sabores com o passar dos anos. Mas vale notar que eles não seguem evoluindo após seu envase, estando prontos para consumo, apesar de poderem ser conservados por um longo período nas garrafas. Também cabe o lembrete de que devem ser armazenados na vertical, pois a acidez elevada pode danificar a rolha e provocar evaporação ou permitir a contaminação da bebida.
Em resumo, os métodos de estufagem e canteiro conferem aos vinhos da Madeira uma personalidade única e uma riqueza de aromas e sabores que os tornam verdadeiras obras-primas enológicas. Seja apreciado jovem ou muito velho, um bom exemplar Madeira é uma experiência sensorial inigualável, que reflete a rica tradição e o terroir único desta ilha atlântica.
* Vinícius Santiago é professor ABS-RS, e entre suas várias grduações e títulos, é formador certificado de Vinho do Porto e educador de Vinho Madeira
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