Há risco de contaminação do vinho com metanol?
- Martha Caus

- 6 de out.
- 5 min de leitura
Crise provocada por bebidas adulteradas tem gerado receio no consumo do vinho, saiba quais os riscos e como prevenir o consumo de produtos impróprios à saúde
Foto/montagem Martha Caus

Por Martha Caus
Diretora de Comunicação e Conteúdo ABS-RS
O aumento de casos de intoxicação por metanol em São Paulo e em outros estados deixou os brasileiros em alerta e desconfiados sobre quais bebidas alcóolicas oferecem maior risco de contaminação pelo composto. Informações preliminares indicam que os destilados, como gim, uísque, vodca e cachaça, são os principais suspeitos na crise atual. E os especialistas corroboram esclarecendo que o vinho e a cerveja apresentam menor risco desse tipo de adulteração, embora não estejam totalmente livres de fraude criminosa.
O metanol é um solvente industrial altamente tóxico, impróprio para consumo humano, que pode causar cegueira irreversível e até morte. Ele pode estar presente nas bebidas de duas formas: por falhas no processo de destilação, quando não há descarte da fração inicial rica em metanol, ou por adulteração deliberada, em que criminosos adicionam o produto para aumentar o teor alcoólico a baixo custo – essa, a hipótese mais provável nas investigações no caso atual.
Presença natural em vinhos e cervejas
Apesar de os casos recentes estarem ligados especificamente a bebidas destiladas, o metanol também pode aparecer, ainda que em quantidades pequenas, em produtos fermentados como vinho e a cerveja.
O analista químico Siddhartha Giese, do Conselho Federal de Química (CFQ), explica que a substância pode surgir naturalmente durante o processo de fermentação de frutas ricas em pectina, como uvas, maçãs e ameixas. “Durante a fermentação, a pectina pode ser degradada por enzimas que liberam metanol. Esse processo ocorre de forma natural e, quando controlado, resulta em concentrações seguras ao consumo”, esclarece.
Mesmo assim, os níveis registrados em bebidas fermentadas costumam estar dentro dos limites considerados seguros. A legislação brasileira estabelece que vinhos tintos podem conter até 400 mg por litro de metanol, enquanto vinhos brancos e rosados têm limite de 300 mg por litro.
“Esses valores são muito inferiores às doses tóxicas para humanos, que começam em cerca de 8 gramas de metanol ingerido. Portanto, o vinho produzido dentro das normas não representa risco à saúde”, detalha Giese.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a concentração de metanol na cerveja varia entre 6 e 27 mg por litro, quantidade considerada segura para o consumo. Nos destilados, o valor pode chegar a 220 mg por litro – porém, nesse tipo de bebida, o metanol pode ficar concentrado, aumentando o risco.
Maior perigo nas adulterações
O grande risco não está na formação natural do metanol, mas na adulteração intencional das bebidas. A prática, considerada criminosa, ocorre quando o metanol é adicionado para aumentar o teor alcoólico aparente de produtos de baixa qualidade ou de fabricação irregular.
Não há método caseiro seguro para detectar a presença da substância. Alterações de sabor ou odor podem indicar irregularidades, mas nem sempre são perceptíveis. Outras pistas incluem preços muito abaixo do mercado, ausência de selo fiscal e origem duvidosa.
A recomendação dos especialistas é comprar apenas bebidas regulamentadas e produzidas por fabricantes reconhecidos, evitando produtos vendidos de forma informal. Até o momento não foi constatado caso de adulteração em vinhos, mas vale frisar que quem costuma adquirir rótulos “do contatinho do Whats”, muitas vezes por preços bem abaixo do verificado no mercado, pode estar à mercê de irregularidades.
Descaminho e fraude no vinho ameaçam a saúde e o comércio legal
Ainda que nos vinhos a adulteração por metanol seja pouco provável, infelizmente, no Brasil, esse setor é bastante afetado pela falsificação e descaminho. Há um alto número de fraudes no mercado, que envolve a venda de vinhos de baixa qualidade como se fossem de marcas premium, muitas vezes acompanhada de vinhos ilegais com impostos não pagos.
Rótulos fora do padrão legal, preços muito abaixo do encontrado no comércio, lacres tortos e selos de autenticidade falsificados são sinais de alerta. Segundo apuração do site Brasil de Vinhos, entre 2022 e 2024 foram apreendidos mais de 531 mil litros de bebidas provenientes apenas de descaminho em ações realizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) nas fronteiras. As principais origens são de países vizinho, especialmente a Argentina, e abastecem estabelecimentos comerciais por todo o país. A estimativa é que esse tipo de comércio movimente até R$ 2 bilhões por ano no mercado ilegal, além de aproximadamente R$ 1 bilhão de evasão fiscal, segundo o Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF).
“Conhecer a procedência do produto que você está consumindo é algo muito importante, por isso, por mais não seja hábito do consumidor, leia rótulos e contra-rótulos, saiba se esse produto foi produzido/importado de acordo com a legislação vigente. Porque muito pior que o descaminho/contrabando, são os processos de adulteração e falsificação, isso não é mais sobre preço ou tributo, é sobre saúde, é sobre vida, é sobre pessoas”, alerta a biomédica Caroline Dani, presidente da seccional gaúcha da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS).
Em entrevista concedida ao site, a presidente da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), Cristiane Souza Foja, esclarece: “o comércio do vinho no Brasil é permitido. Porém, quando falamos de identidade, não é possível garantir que uma bebida alcoólica que está sendo comercializada ilegalmente seja ela mesma”. A presidente reforça que o vinho só é legal se tiver passado pelos testes do MAPA e cumprir os requisitos mínimos de qualificação, padrão de identidade e qualidade e lembra que o conteúdo da garrafa pode conter substâncias nocivas a saúde: “pode até matar ou causar um dano permanente na pessoa. Então, se for tóxico é proibido e não autorizado. Logo, indiretamente, é contrabando.
Pablo Jacob/Governo de SP/Divulgação

Sinais de Fraude:
· Preço muito baixo: Um preço significativamente menor que o da marca original é um forte indício de fraude.
· Embalagem suspeita: Verifique se há lacres tortos, erros de impressão, rótulos mal feitos ou selos de autenticidade falsificados.
· Origem duvidosa: Compre sempre em distribuidores autorizados ou diretamente dos produtores e fique atento a vendedores de redes sociais com informações falsas.
Como evitar a compra de produtos ilegais:
· Verifique os selos de autenticidade: Empresas idôneas aplicam selos que garantem que o vinho foi importado de forma legal.
· Compre em canais oficiais: Prefira comprar pelo aplicativo e site oficiais da empresa distribuidora e evite as promoções dos “contatinhos” que atuam com venda pelo whatsApp.
· Verifique o contrarótulo: A legislação obriga que as informações estejam em português. Caso você encontre outro idioma, desconfie.
· Denuncie: Em caso de suspeita, denuncie para as autoridades, como Vigilância Sanitária e Procon.
Como evitar bebidas contaminadas com metanol
A Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) indica um passo a passo para garantir que a bebida alcoólica é segura:
· Verifique a vedação da bebida comprada.
· Analise se as bebidas seguem um padrão de quantidade de líquido. Caso não, pode ser um indicador de que algo está errado.
· Confira os rótulos. Bebidas legais comercializadas no Brasil possuem contrarrótulo em português, com o número do registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
· Desconfie de preços muito baixos. Ofertas e promoções existem, mas, em se tratando das bebidas alcoólicas mais conhecidas e desejadas, existe uma média de preço de mercado.
· Compre em locais confiáveis.








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