Vinhos desalcoolizados: presente e futuro
- Júlio César Kunz
- 28 de mar.
- 3 min de leitura
Mercado de vinhos desalcoolizados cresce rapidamente, impulsionado por tendência global de redução do consumo de álcool
Por Júlio César Kunz
Professor e diretor de vinhos da ABS-RS
Divulgação Prowein

Iniciativas como o “Dry January” — realizada no início do ano, em que se propõe um mês sem consumo de bebidas alcoólicas para promover a saúde — revelam uma mudança no comportamento dos consumidores. Nascida no Reino Unido, a prática do “Dry January” é cada vez mais adotada e estimula reflexões sobre hábitos mais saudáveis. Estudos apontam que pessoas que passam por esse período de abstinência temporária não apenas experimentam melhorias físicas e mentais, como também, muitas vezes, mantêm um consumo mais moderado posteriormente.
Esse movimento de moderação no consumo de álcool é especialmente popular entre as gerações mais jovens, como a geração Z, que demonstra uma visão mais consciente sobre o consumo de bebidas alcoólicas. Diferentemente de gerações anteriores, esses jovens não associam o consumo de álcool com diversão e, por vezes, preferem bebidas que ofereçam a experiência social sem os efeitos do álcool. Isso se traduz em uma demanda crescente por vinhos desalcoolizados e de baixo teor alcoólico, produtos que oferecem uma alternativa sem renunciar ao prazer de degustar uma boa bebida.
O mercado de vinhos sem álcool ilustra essa mudança de maneira significativa. Em 2022, o mercado global de vinhos não alcoólicos já representava cerca de 1,4 bilhão de dólares, com projeções de crescimento que sugerem uma triplicação desse valor até 2028, chegando a 4,5 bilhões de dólares. Países como Suécia, Finlândia e Noruega, onde existem políticas de restrição e altos impostos sobre bebidas alcoólicas, lideram essa demanda. Esses mercados, por suas características, favorecem a oferta de produtos com baixo teor alcoólico, respondendo ao desejo de consumo consciente e às regulações locais.
Na Austrália, esse mercado tem uma expansão mais acelerada que a média global, refletindo a alta demanda interna por alternativas menos alcoólicas. No entanto, também na Europa e no Reino Unido, o mercado de vinhos com baixo teor alcoólico e desalcoolizados ganha força. O Reino Unido, por exemplo, que mantém relações comerciais próximas com a Austrália, é um dos principais importadores de vinhos australianos de baixo teor alcoólico.
É importante notar que essa tendência de redução de álcool não significa uma rejeição ao consumo de vinhos, mas sim uma adaptação às novas preferências de consumo. O setor de vinhos responde oferecendo opções diversificadas, que vão desde vinhos completamente desalcoolizados até aqueles com redução de teor alcoólico. Esse mercado, além de lucrativo, reforça o conceito de um consumo equilibrado, adaptado ao perfil do consumidor moderno que valoriza a saúde e o bem-estar sem abrir mão da experiência de apreciar uma bebida de qualidade.
Divulgação Prowein

A ProWein Zero, por exemplo, é uma iniciativa recente dentro da renomada feira de vinhos ProWein, dedicada exclusivamente a bebidas desalcoolizadas ou com baixo teor alcoólico. Lançada em resposta ao crescente interesse por alternativas ao álcool, a ProWein Zero oferece um espaço exclusivo para produtores que atendem a essa demanda e para consumidores que buscam experiências inovadoras sem os efeitos do álcool. Com expositores de diversas partes do mundo, o evento apresenta uma variedade de vinhos desalcoolizados, proporcionando uma visão abrangente das últimas tendências e inovações tecnológicas nessa área. Além de promover a degustação de produtos diferenciados, a ProWein Zero fomenta o diálogo sobre o futuro do mercado de bebidas e reforça a importância do consumo consciente no setor vinícola.
Com o avanço dessa tendência, o setor de vinhos enfrenta um novo cenário em que produtos desalcoolizados e de baixo teor alcoólico não são apenas uma moda passageira, mas parte de uma transformação mais ampla e duradoura na relação das pessoas com o álcool. Para o setor, isso representa tanto um desafio quanto uma oportunidade: adaptar-se às mudanças no comportamento dos consumidores e atender a uma demanda que cresce significativamente, especialmente entre as gerações que guiarão o mercado nas próximas décadas.
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