Trazendo referências da África do Sul e do Uruguai, 3ª Jornada do Sommelier debateu governança, compliance e ESG, temas alçados à pauta nacional recentemente
Assumindo um protagonismo em assuntos que que dizem respeito a todo o setor vinícola nacional, a seccional gaúcha da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS-RS) promoveu a 3ª Jornada do Sommelier no dia 3 de junho, data em que é comemorada a profissão e véspera do Dia do Vinho no estado. Temas como governança, compliance e ESG, alçados à pauta nacional recentemente, foram o centro do debate por meio de representantes brasileiros e estrangeiros, com exemplos, projetos que estão sendo desenvolvidos e metas para os próximos anos. Abrindo o painel “Equidade no vinho: boas práticas do vinhedo à taça”, Erica Taylor, diretora geral da Associação dos Sommeliers da África do Sul, fez um resgate histórico da vitivinicultura do país. A nação passou por desafios como o Apartheid, crises hídricas e a própria pandemia que aceleraram a busca por um modelo de produção sustentável. Ela destacou as certificações que ajudam a conciliar os cuidados com o meio ambiente associadas ao foco na produção de vinhos de alta gama. “Hoje temos cerca de 45% dos vinhedos qualificados para receber as certificações de sustentabilidade no país. Não há como ter acesso e conquistar mercados premium, como a Europa, sem uma agenda ESG robusta”, ensinou.
No painel “Vitivinicultura Sustentável: o Caminho para um Futuro Responsável”, Lucia Bentancor de León, inspetora do Instituto Nacional de Vitivinicultura do Uruguai (Inavi), mostrou de que forma o país vizinho vem trabalhando no fomento à produção sustentável desde 2018. O Uruguai deverá certificar todas as vinícolas até o próximo ano. Ela informou que o próprio instituto subsidia com US$ 750 propriedades de até 5 hectares e com US$ 1 mil para vinhedos acima de 50 hectares. “Esse trabalho de certificação está alicerçado em promover segurança alimentar, responsabilidade social e sustentabilidade ambiental e econômica. Um dos focos é reduzir o impacto da produção de uvas ao meio ambiente, além de atender às exigências que o próprio mercado vem tomando quanto às práticas agrícolas”, contextualizou. Os exemplos vindos dos dois continentes devem nortear ações no Brasil visando, além dos cuidados com o meio ambiente e a equidade econômica, o bem-estar dos trabalhadores e das trabalhadoras de toda a cadeia vitivinícola brasileira.
Durante a terceira Jornada do Sommelier vinícolas de todos os portes e empresas do ramo também deram suas contribuições nos dois painéis. O gerente geral de marketing e vendas da Cooperativa Vinícola Aurora, Rodrigo Valerio, mostrou de que forma a empresa vem trabalhando no que chamou de “jornada de transformação”. Ele destacou os pilares de boas práticas agrícolas e trabalhistas, ESG e governança que a companhia tem implementado desde o ocorrido em fevereiro. Deborah Villas-Bôas Dadalt, diretora do Spa do Vinho, apresentou algumas das características que fazem do Vale dos Vinhedos um dos dez principais destinos enoturísticos do mundo. A empresária reforçou que a identidade é fundamental no chamado turismo do vinho, para que as pessoas associem as marcas que fazem parte de uma região com o destino turístico. Além disso, ela ainda revelou tendências do consumo na Europa, como o menor uso de madeira nos vinhos, iniciativa que dialoga com o tema da sustentabilidade.
Philippe Mevel, diretor de produção da Chandon do Brasil e Giovanni Ferrari, enólogo e proprietário da Vinícola Arte Viva, demonstraram de que forma as empresas, de diferentes portes, estão conectadas com os processos de sustentabilidade que o mundo exige. Na multinacional francesa, por exemplo, há uma preocupação constante em empregar a força feminina. Na última safra, 60% dos safristas dos vinhedos de Encruzilhada do Sul (RS) eram mulheres. O debate ainda teve a participação de Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE) e Rodrigo Bellora, chef e proprietário do restaurante Valle Rústico. Morari deu detalhes de como a enologia tem empregado o conceito ESG desde o terroir até a taça. Uma dessas tarefas tem sido o uso de garrafas mais leves, de modo a não precisar de toneladas de vidro anualmente.
Eleito o melhor Sommelier do Brasil em 2022, Wallace Gonçalves Neves compartilhou com o público os desafios da profissão que precisam acompanhar as mudanças de mercado e de perfil de consumidor. Neves afirmou que além de auxiliar na escolha dos vinhos e nas sugestões de harmonizações, o Sommelier acaba fazendo o papel de Relações Públicas do estabelecimento, já que é, muitas vezes, o profissional que tem um contato mais próximo ao cliente. À tarde a ABS-RS também promoveu uma feira de vinhos com a participação de 14 vinícolas, lojas e importadoras. O público presente pode degustar vinhos especiais acompanhados por harmonizações (finger foods) com a curadoria do Spa do Vinho e do chef Fábio Lima.
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