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Foto do escritorMarcos Graciani

As duas safras distintas de 2021

Os espumantes serão melhores do que os do ano passado, porém os enólogos brasileiros enfrentarão desafios maiores





O ano de 2021 presenteará os brasileiros com duas safras diferentes. As uvas viníferas precoces, que foram colhidas entre dezembro e janeiro, têm tanta ou mais qualidade que aquelas de 2020, conhecida como a “Safra das Safras”. No entanto, o clima não foi tão favorável para as variedades intermediárias. Para as tardias, ainda será preciso acompanhar como o clima se comportará. Esse é apenas um resumo da conversa que tive com André Gasperin, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), no movimento Bella Ciao, iniciativa ABS-RS que completará um ano no dia 18 de março (a entrevista completa você pode acompanhar ao final deste artigo acessando a aula disponível no canal do YouTube da associação).


Aliás, a safra passada pode ganhar tamanho reconhecimento por causa das mudanças climáticas. Com temperaturas mais quentes e sem umidade, a vitivinicultura galgou alguns degraus, em grande parte ao fenômeno La Niña. Na safra de 2021 ele também deu o ar da graça novamente, mas se expressou em setembro e outubro, não em dezembro. “Isso fez com que tivéssemos um ganho de quantidade em relação às outras safras, pois não teve perda de floração devido ao La Niña”, explicou Gasperin.


Em 2020 houve um período de estiagem muito prolongado. Por isso, algumas videiras não atingiram níveis de maturação no ponto ideal. Porém, desta vez o regime de chuvas foi melhor distribuído dando maturação mais plena para o vinho base espumante. O presidente da ABE antecipou que a qualidade dos vinhos base deste ano está até superior a do ano passado. “Teremos espumantes de padrão muito alto na safra 2021”, prevê. Com um ano tão singular as vinícolas deverão apostar nos espumantes safrados, também conhecidos como Millésimé, ou seja, aqueles produzidos com uvas de uma só colheita tida como excelente.


Para Gasperin, as viníferas intermediárias trouxeram alguns desafios maiores para os enólogos, tendo em vista um período de mais de 20 dias chuvosos em parte de fevereiro. As tintas Pinot Noir, por exemplo, tiveram de ser colhidas antes nos parreirais localizados em regiões onde o clima se apresentou mais úmido. “Não significa que o vinho terá qualidade menor, mas exigirá que a vinícola use mais tecnologia para obter um resultado melhor para determinados rótulos”, esclareceu o presidente da ABE.


Ele também tem uma expectativa muito grande com a colheita das uvas tardias. Como a chuva tem dado uma trégua, é possível que a Safra 2021 poderá ainda reservar algumas surpresas. Os vinhos deste ano serão marcados pelo maior frescor, serão menos alcoólicos, terão perfil aromático primário prevalecendo e, também, mais leves em relação ao potencial de evolução. Com isso, os vinhos mais jovens devem se sobressair.


Segundo Gasperin, os brancos produzidos com Chardonnay, Sauvignon Blanc, Viognier e moscatos para base de espumantes moscatel estão se mostrando bem interessantes. “A expectativa é para que possamos obter produtos de uma qualidade nem superior, nem inferior aos da Safra 2020. Com certeza, vamos extrair o que de melhor a safra proporciona”, projetou.


Algumas variedades novas, adaptadas ao solo brasileiro, têm dado resultados interessantes. Gasperin exemplificou algumas delas, especialmente aquelas que mais gosta. Entre elas estão os vinhos produzidos com Rebo, Teroldego, os brancos de Alvarinho e também o Pinot Grigio, que dá notas leves, frutadas e joviais. Na visão do enólogo, ainda que a Merlot seja apontada como uma vinífera emblemática do Brasil, especialmente da Serra Gaúcha, o Brasil continental não pode ser destacado como uma nação de apenas uma variedade. “Talvez eu tenha uma opinião controversa sobre esse tema, mas entendo que o assemblage, o corte de diferentes uvas, seja o melhor vinho do Brasil. Existem terroirs muito específicos e uma variedade extensa de diferentes vinhos, por isso o gosto pessoal de cada um deve prevalecer”, ensina.




Sobre o autor: Marcos Graciani é diretor da ABS-RS, Sommelier pela ABS-RS e ABS-SP, além de ter certificação pela Wine & Spirit Education Trust (WSET) - Nível 2. Há mais de 20 anos incursionou no mundo dos vinhos. Em AMANHÃ, onde é editor da edição impressa e portal, é titular do Blog Cepas & Cifras, espaço que se notabilizou por registrar a economia na cadeia vitivinícola brasileira e da região Sul especialmente, além de temas relacionados, a exemplo do marketing e da gestão.


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