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Poda dupla, poda invertida: uma nova viticultura?

O Brasil aprimorou uma técnica que ajudou a modificar o ciclo da videira



Tanto no Hemisfério Sul quanto no Hemisfério Norte, a uva é colhida no verão. No entanto, já faz alguns anos que o Brasil aprimorou uma técnica que ajudou a modificar o ciclo da videira, permitindo que, em vez de no verão, ela seja colhida no inverno. Trata-se da dupla poda ou poda invertida, uma técnica aperfeiçoada por pesquisadores da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) há alguns anos, que permite que os produtores colham a uva no período mais seco e, assim, possam garantir a qualidade de seus vinhos. Esse foi o tema do encontro do Movimento Bella Ciao onde abordei em detalhes essas técnicas (veja a aula completa no canal do YouTube da ABS-RS. Você encontra o link direto ao final deste artigo).


Existem vários tipos de poda. Poda de implantação é realizada na muda antes dela ser plantada, pois durante o transporte pode quebrar e também para reduzir o número de gemas para fazer com que ela ganhe em vivacidade. Já a poda de formação encaminha a videira para o sistema de sustentação que é desejado, pois temos de lembrar que a videira é uma trepadeira que tem necessidade da condução. A poda de formação, por sua vez, é quando começa a brotar e vamos conduzindo-a, para que no futuro tenhamos então a poda de frutificação.


A poda de frutificação ou produção é quando preparamos a videira para a safra seguinte. O que fazemos é eliminar alguns sarmentos mal localizados ou fracos, deixando apenas a planta com os esporões desejados e limitando a carga de gemas ao máximo que se deseja de produção da videira, melhorando a qualidade das uvas produzidas. A poda de renovação é quando precisamos fazer um corte mais abrupto, maior, pois pode ter havido alguma doença, pragas ou mesmo granizo, por exemplo.


A poda de inverno ou poda seca – que acabamos concluindo que é a poda de produção, porque depois dela vamos conduzir à formação de brotos – é quando vamos conduzir a produção e formação de ramos. Também temos a poda de verão (ou verde) para reduzir a massa foliar. Isso é o ciclo tradicional, onde a videira entra em dormência, faz-se a poda seca para conduzir a produção do próximo ciclo. A poda verde é quando queremos dar direcionamento no crescimento vegetativo, diminuir as partes que foram estragadas e fazer com que a videira ganhe mais incidência solar, tirando o excesso de folhas e deixar que o sol entre para favorecer o amadurecimento da uva.


Temos videiras no hemisfério Sul e Norte. E temos, no hemisfério Norte inverno, queda das folhas, dormência, logo, poda seca. Mas no hemisfério Sul estamos no verão: ou seja, período de maturação, poda verde e início da colheita. Então temos o inverso. É exatamente o mesmo ciclo, mas o que acontece no hemisfério Norte acontece ao contrário no hemisfério Sul.


Recordemos que o sol é importante para a uva, que ainda está verde, atinja sua maturidade. O mais importante é que ele chegue na uva, pois se não tivermos uma incidência solar adequada, não vamos ter uma maturação apropriada e vamos ter uma situação em que alguns grãos da uva amadurecem e outros seguem verdes. É um caso comum em regiões com alta precipitação no momento de maturação da uva. Foi isso que um dos pesquisadores responsáveis pela dupla poda se deu conta. Uma experiência no hemisfério Norte, exatamente nesse momento que colhe aqui seria o momento de colher no hemisfério Sul, porque é o momento com menos chuva no hemisfério Sul. Se deixar para colher no hemisfério Sul onde se tradicionalmente colhe, precisa de sol para amadurecer essa uva, amplitude térmica e nada de chuva. Como resolver isso, de que forma minimizar essa condição não tão adequada?


Essas mesmas pessoas que perceberam que no momento em que colho no hemisfério Norte é quando deveria estar colhendo no Sul, também sabiam que tinha o clima tropical de altitude porque se tratava um clima um pouco mais quente, mas com altitude. E sabiam que nessa região tinha algo muito importante para a uva, que é amplitude térmica. Aí toma forma a ideia da dupla poda. O professor Murilo Albuquerque Regina foi peça fundamental no pensar da técnica dupla poda. Ela foi pensada como uma alternativa para ajustar o ciclo da videira para o melhor momento de colheita da uva. “Nosso clima é tropical, e, portanto, assim como no Vale do São Francisco, podemos iniciar o ciclo da videira no momento em que acharmos mais adequado à produção, e também podemos, se desejarmos, ter mais de uma safra por ano”, afirmou Marcelo Souza, da Epamig, em uma entrevista à Revista Adega. Ele foi uma pessoa importantíssima para possibilitar a introdução da técnica do Murilo.


Essa dupla poda nada mais é do que desviar a produção da videira para o inverno, para esse momento onde há menos chuva e se consegue obter sanidade maior, além de um período de maturação mais prolongado. São programadas duas podas. Uma primeira dos galhos da videira em setembro que é a poda de formação. E a segunda, em janeiro/fevereiro, é a de produção. Eles consideram essa técnica como um grande diferencial para os vinhos finos de qualidade que estão sendo elaborados dentro dessas condições. Convencionou-se chamar-se poda invertida pelo fato do ciclo invertido: em vez de colher no verão, se faz isso no inverno.




Sobre a autora: Caroline Dani é Diretora de Relacionamento com Alunos da ABS-RS. Sommelier profissional formada pela ABS-RS/ABS-SP. Possui graduação em Biomedicina pela Universidade Feevale (2004), mestrado (2006) e doutorado (2008) em Biotecnologia pela Universidade de Caxias do Sul (2006). Pós-doutorado na Georgetown Lombardi Comprehensive Cancer Center na Georgetown University, Washington, DC, EUA. Atualmente é professora do do Programa de Pós Graduação em Farmacologia e Terapêutica da UFRGS. Pós-Doutoranda na UFRGS. E membro da Comissão de Segurança e Saúde da OIV no Brasil. Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Bioquímica da Nutrição.



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