País traz ótimas referências em certificações e protocolos de manejos que buscam minimizar impactos ambientais e sociais na viticultura
Martha Caus
Vinhedos de produção biodinâmica da Lamardier-Bernier em Champagne, França
Por Patrícia Binz*
Diretora de Marketing da ABS-RS
Na viticultura francesa, a sustentabilidade é uma preocupação crescente, impulsionada pelo reconhecimento dos impactos ambientais e sociais da produção de vinho, já que a viticultura é tão importante para o país. Existem vários formatos de produção sustentável e certificações que visam a preservação do meio ambiente e de prevenção das mudanças climáticas, que podem ocasionar eventos extremos, algo que estamos vendo acontecer ao redor do mundo e, agora, com trágicos resultados, no Rio Grande do Sul. A seguir seguem algumas dessas práticas que buscam um cultivo mais responsável e que podem servir de exemplo para outras regiões produtoras.
Viticultura sustentável: Com o objetivo de usar agrotóxicos de forma mais comedida, focando na redução e uso somente quando extremamente necessário, utilizam as coberturas verdes para manter a integridade do solo e minimizar a erosão, assim como há uma preocupação na manutenção da matéria orgânico do solo e da biodiversidade. Essas práticas são conhecidas como "lutte raisonée", e não exigem certificação. Comumente são empregadas como ponto de partida para a evolução da sustentabilidade na propriedade, podendo chegar nas viticulturas orgânica e/ou biodinâmica.
Viticultura orgânica ou biológica: Os viticultores evitam o uso de produtos químicos sintéticos, como pesticidas e fertilizantes, optando por métodos naturais de controle de pragas e fertilização. Também podem adotar técnicas como rotação de culturas e compostagem para melhorar a saúde do solo. Tratamentos mais naturais podem ser utilizados, isso é, são químicos, mas não agrotóxicos da viticultura convencional, como o sulfato de cobre. Teve início em 1985 no país pela Agriculture Biologique France (AB France), e adição em 2007 da Bioagricert. É comum que os dois logos sejam observados nos rótulos dos produtos orgânicos franceses, pois ambos garantem que os produtos sejam elaborados de acordo com os padrões estabelecidos pela União Europeia.
Viticultura biodinâmica: Vai além do orgânico, incorporando práticas que consideram a vinha como um organismo vivo integrado ao seu ambiente, pensando a propriedade como um todo. Isso inclui o uso de preparações especiais à base de plantas e minerais, bem como a sincronização das atividades agrícolas com os ciclos naturais da lua e dos planetas. A Demeter e a Biodyvin são certificadores que preconizam rigorosos princípios biodinâmicos estabelecidos a partir dos conceitos criados pelo austríaco Rudolf Steiner e o calendário desenvolvido por Maria Thun.
Haute Valeur Environnementale – HVE: A sigla HVE, traduzida como Alto Valor Ambiental é uma certificação governamental que reconhece os esforços dos produtores para reduzir o impacto ambiental de suas práticas agrícolas. Existem três níveis de certificação, com o mais alto exigindo práticas avançadas de sustentabilidade. A HVE é uma abordagem voluntária, acessível a todos os setores, construída em torno de quatro temas ambientais: proteção da biodiversidade, estratégia fitossanitária, gerenciamento de fertilização, gerenciamento de recursos hídricos. Este rótulo recompensa as fazendas que usam pesticidas em uma extensão limitada e favorecem soluções naturais, têm o gerenciamento de água mais racional possível e prestam especial atenção à proteção da biodiversidade, fauna e flora. Esta certificação é um reconhecimento real de seu compromisso e sua abordagem ao desenvolvimento sustentável na França.
Terra Vitis: É uma abordagem de certificação que se concentra em práticas sustentáveis e responsáveis com abordagem global específica para a viticultura, levando em conta toda a operação da propriedade, o ambiente, a comunidade e sua viabilidade econômica. Uma área certificada Terra Vitis é imediatamente premiada com o nível 2 de HVE. Os produtores certificados devem cumprir critérios relacionados à proteção do meio ambiente, segurança do consumidor e responsabilidade social.
Além disso, a França apresenta uma raridade no mundo vinícola, uma certificação exclusiva para os vinhos naturais. Isso não diz respeito a sustentabilidade diretamente, mas é uma forma adicional ao que se entende por sustentabilidade. O uso ou não de SO2, por exemplo, é um dos fatores controlados nessa certificação, que diz respeito mais à escolha de consumo.
Essas formas de viticultura sustentável e certificações oferecem aos consumidores a garantia de que os vinhos franceses foram produzidos de maneira responsável, respeitando o meio ambiente e as comunidades locais.
Dessa forma, ficam como ideias de manejo sustentável da vitivinicultura para adoção em outras polos produtores. E a França serve como uma boa referência, pois apresenta diversos terroirs desafiadores para uma produção mais sustentável, tal como a viticultura orgânica. Em regiões mais úmidas, por exemplo, uma viticultura com menos agrotóxicos acaba sendo mais arriscada e difícil de conduzir, especialmente em relação a prevenção de fungos.
Sobre a autora: Nutricionista, pós-graduada em Gestão de Marcas (branding) e Mestre em Turismo e Hospitalidade, todos pela UCS (Universidade de Caxias do Sul), possui experiência na área de nutrição com ênfase em segurança de alimentos e sustentabilidade. Sommelière Profissional (ABS-RS) e Master Países e Regiões (ABS-RS), também tem certificação nível 3 WSET e é candidata ao Diploma WSET. Conta com experiência como consultora e head sommelier em restaurantes e hotéis de luxo, e atua em experiências enogastronômicas, assim como é docente em cursos de vinhos e organiza eventos ligados ao setor.
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