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Foto do escritorAndreia Milan

O mercado vinícola segue mudando – e você também

Setor abraça causas e consumo mais conscientes. E o planeta agradece



Em 2021, o Brasil atingiu a 14ª posição no ranking de mercados de vinhos mais atraentes do mundo, depois de subir 12 colocações, de acordo com a consultoria Wine Intelligence. Também existe a expectativa que o valor total consumido no Brasil, em litros, dobre para aproximadamente 40 milhões até 2026, segundo a Euromonitor International. E a depender das estatísticas ainda mais atuais, esse desempenho tende a evoluir. Nos últimos doze anos, a população de consumidores regulares da bebida dobrou para 44 milhões de pessoas no ano passado. Uma das molas propulsoras desse maior consumo tem sido o público feminino. Elas já representavam mais da metade (54%) dos consumidores regulares em 2022, um avanço de sete pontos percentuais em um intervalo de apenas três anos. Também é nítido em todo o país o aumento do interesse das mulheres pelo vinho com presença preponderante em confrarias, em viagens enoturísticas e nos cursos de formação em Sommellerie, como os oferecidos pela ABS-RS.


Não sabemos quanto o gosto feminino influenciou em algumas mudanças de comportamento em relação à bebida, mas isso pode ter acontecido. Cada vez mais consumidores buscam vinhos que sejam frescos e leves. A cor também passou a ser algo notado, fazendo com que aquelas mais claras e naturais saltem aos olhos. Sauvignon Blancs vigorosos e outros brancos refrescantes, bem como tintos de cores mais claras, como o Pinot Noir, tornaram-se chamariz. Afinal, vinhos com essa coloração colocados dentro de garrafas transparentes e com design atraente tornam a bebida altamente “instagramável” para a rede social. Especialmente na Europa está ocorrendo um ressurgimento do vinho branco. Nas regiões vinícolas do Oregon à Nova Zelândia há escassez de Chardonnay. Nessa onda de transformações do consumo, os tintos leves têm conquistado mais espaço. Os rosés e espumantes também seguem nessa lista. Os coquetéis de vinho, muitos surgidos em solo europeu, estão voltando à moda, com a adição de frutas e outros sabores ao vinho. Tanto é verdade que esses tipos de drinks, especialmente acomodados em embalagens prontas para beber, aumentaram suas participações nas vendas, de acordo com informações da NielsenIQ.


Esses novos estilos de aperitivos são um convite para frequentar locais descontraídos, onde o vinho passou a ter mais protagonismo em bares dedicados exclusivamente ao néctar de Baco. O vinho, agora, é mais acessível e apropriado para ambientes informais. Esse movimento tem feito com que a oferta de estilos tenha um aumento significativo levando a uma especialização maior por parte de Sommeliers e Bartenders, pois os bares estão montando cartas cada vez mais completas e diversas. Isso tudo faz com que o consumidor esteja mais aberto a experimentar novidades, hábito que foi conquistado na pandemia através do e-commerce. Rótulos de países menos convencionais continuam a figurar entre os mais vendidos na internet. A razão? Sete em cada dez brasileiros afirmam que estão abertos a degustar novos tipos e estilos de vinhos.


Com certeza, o convívio familiar, aprofundado durante o longo período da quarentena, fez com que essa virtude contagiasse os mais jovens. Eles têm demonstrado interesse em provar castas autóctones que são cultivadas há séculos em países do Velho Mundo, sobretudo Itália, Portugal e Grécia, entre outros. Isso levou à elevação da atratividade por novas regiões vinícolas, notadamente aquelas menores e onde se cultivam vinhedos especiais. Há até mesmo quem aposte que variedades de uvas indígenas e alternativas também terão seu momento nos próximos anos. Em busca do inusitado, independentemente da idade, há cada vez mais procura por diferentes experiências com a bebida. A promoção de eventos como esse até mesmo fez com que o Víssimo Group, que detém as marcas Evino e Grand Cru, investisse na Wine Locals, plataforma de conteúdo e venda de experiências e enoturismo em restaurantes, wine bars e vinícolas. O acordo envolveu a aquisição de 20% do capital da Wine Locals, com possibilidade de ampliar a participação na empresa. Os novos sócios financiarão o crescimento e internacionalização da startup. Desde sua criação em 2020, a plataforma já comercializou mais de 120 mil experiências.


A enologia tem empregado o conceito ESG [Environmental, Social and Governance ou traduzindo, Ambiental, Social e Governança] desde o terroir até a taça. Uma dessas tarefas tem sido o uso de garrafas mais leves, de modo a não precisar de toneladas de vidro anualmente. Por essa razão testemunharemos multiplicarem-se o número de vinícolas que adotarão garrafas bem menos pesadas, formato que pode ser prejudicial aos funcionários que carregam caixas todos os dias. Já existe um grupo de empresas que estão economizando milhões de dólares ao aderir à tendência do "peso leve", como a Albert-Bichot, na Borgonha (França), e a Native Flora, no Oregon (EUA). Uma característica mercadológica própria que deve impulsionar ainda mais essa tendência é que 80% do vinho é consumido dias após a compra. Por essa razão os recipientes alternativos tornam-se altamente competitivos para uma vinícola pelo fato de os investimentos serem bem mais acessíveis. Não sem razão o vinho em lata caiu nas graças dos brasileiros, especialmente os jovens. A favor do Brasil ainda conta o fato de que somos recordistas mundiais na reciclagem de alumínio, com 99% de reaproveitamento da matéria-prima.


Essa pegada em relação à sustentabilidade tem estreita relação com os consumidores dos novos tempos. Ao ingerir bebidas alcóolicas, há clara consciência da real possibilidade da dependência, caso não se deguste com a devida moderação. Os próprios consumidores estão exigindo vinhos menos alcóolicos, de forma que possam alongar o prazer de beber sem propiciar mal à saúde e boa parte da cadeia vitivinícola já entendeu o recado. Isso não significa que vinhos mais potentes e longevos serão escanteados, pois, como bem sabemos, na multiplicidade dos produtos à disposição no segmento há espaço para tudo e para todos – ainda mais para os produtores de vinho que, ano após ano, são desafiados a apresentarem ao mercado bebidas com diferenciais para atrair os velhos e jovens apreciadores dessa bebida milenar. Afinal, a História prova que a humanidade evolui e as pessoas mudam. E o Sommelier, cuja principal função é o bem servir, deve estar atento a todos esses pequenos e importantes detalhes para a satisfação dos clientes à mesa e, de quebra, pelo bem do planeta.


Sobre a autora: Andreia Gentilini Milan é diretora tesoureira da ABS-RS. Atua há 14 anos no setor vitivinícola nas áreas de mercado e marketing do vinho. Esteve à frente do Wines of Brasil durante oito anos na construção do posicionamento do vinho brasileiro no mercado nacional e internacional. É consultora em gestão de categoria de vinhos para o grande varejo e em gestão comercial para vinícolas brasileiras. Sommelier profissional, administradora de empresas com MBA pela Fundação Dom Cabral e Post-MBA na Kellogg School of Management. Membro do conselho da ABS-Brasil, ex-presidente e atual tesoureira da ABS-RS. Empreendedora do mundo do vinho, é uma das idealizadoras da marca premium de espumantes Amitié e sócia da Agência de Viagem Bem Vino, com foco em enoturismo.

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